Partir em Missão

De Saída

A ARM sempre alimentou no espírito dos antigos alunos a ideia de dar e viver, em regime de voluntariado, algum tempo da sua disponibilidade ao “Trabalho real em Terras de Missão”. Muitos já tiveram a oportunidade de o fazer, mas nunca disso se deu notícia. 

Por esse testemunho e por essa oferta generosa e incondicional de muitos armistas que partiram como missionários, trabalhando nos mais diversificados serviços para os quais cada um tinha o seu carisma, aqui deixamos o nosso apreço e o nosso muito obrigado.

Mas este convite continua mais aceso de que nunca. Por isso se a vida vos permite, caros Armistas,  e se a vossa chama missionária vos interpela, não hesitem, partam. Os nossos Irmãos, carentes de tudo, agradecem. A SMBN tomará em suas mãos o vosso desejo de partir e estará convosco lado a lado em terras de missão.

Sobre a Importância do Voluntariado, Sérgio Cabral, Armista,  escreveu em Leigos da Boa Nova:

1. O voluntariado enraíza-se na caridade e busca a dignidade e o bem do “outro” que se encontra em situação de necessidade. Este “outro”, na perspetiva cristã, não é apenas um outro “eu” mas configura-se ao próprio Jesus Cristo. As palavras de Jesus não deixam margem para dúvida: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25,40).

2. No voluntariado há uma prioridade do “outro” sobre o “eu”, porque só nesta lógica é possível fazermo-nos próximos deste próximo e deste modo, aceder às suas reais necessidades. É a lógica do amor gratuito que “cria uma disponibilidade interior para os outros, até à radicalidade da entrega, para servir as necessidades reais das pessoas que interpelam a consciência”[1]. Por isso, o voluntariado é muito mais do que um sentimento e do que um conjunto de ações. É um acontecimento que implica não só quem o realiza, mas também quem o recebe. Cria-se assim uma relação que possibilita a participação destes dois intervenientes na construção da justiça e do bem, desde que esta relação esteja fundada na verdade pois só ela pode conferir consistência a todas as ações que daí resultarem e orientar para o bem. Importa referir, também, que estabelecer uma relação com o “outro”, tantas vezes marcado pelo sofrimento e pela injustiça social, implica que o voluntário seja capaz de dar o melhor de si, transcender-se na sua ação, dar-se. Esta tarefa pode trazer sofrimento para o próprio voluntário, uma vez que não se limita a dar ajuda por meio de ações, mas a oferecer-se a si próprio como um dom. Na sua liberdade e através de um compromisso consistente e duradouro, o voluntário sai da sua zona de conforto, desprende-se de si próprio para se entregar ao universo do outro, tantas vezes preenchido de histórias dolorosas que lhe podem trazer dor[4].

3. No voluntariado, deve procurar-se concretizar o valor da solidariedade, não de uma forma assistencialista, mas de modo em que o “outro”, tal como foi dito anteriormente, seja participante, interveniente ativo na construção do seu próprio projeto de vida e da comunidade onde vive. Para que isto aconteça e, de uma forma mais concreta, para além das situações de emergência, a educação deve estar em primeiro lugar. Já o papa Paulo VI, há quase 50 anos, na sua Carta Encíclica Populorum Progressioreferia que em qualquer sociedade “educar é o alicerce fundamental de desenvolvimento pessoal, social e económico” De facto, só a educação é capaz de ajudar cada pessoa a conhecer-se, a conhecer o outro, e desta forma, a estabelecer vínculos de solidariedade que o leve a tornar-se cada vez mais autónomo, participante e corresponsável na condução da sua vida e da vida da sua comunidade.

4. No voluntariado não basta a existência de uma boa vontade. É necessário saber ajudar, com competência e uma atitude adequada. Por isso, a intencionalidade de ajudar o “outro”, deve-se centrar num interesse autêntico nele, e não na busca, para si próprio, de afeto, de popularidade, de protagonismo ou de outro tipo de compensação pessoal[7]. Particularmente, sobre a busca de afeto, o voluntário não deve deixar-se absorver por uma afetividade que crie dependência no “outro”, pelo contrário, terá que ter uma afetividade que ajude a criar uma autonomia responsável. A empatia que estabelece com o universo dos sentimentos e do modo de pensar do “outro” é justamente a maneira de se consciencializar da sua situação real, sem se apoderar dele para implementar uma “ajuda” que não o respeite e, consequentemente, não o introduza no caminho do desenvolvimento[8]. É necessário, também, que o voluntário seja digno de fé. Isto significa que o voluntário pela sua forma de ser, pela sua estrutura moral, pelos seus conhecimentos e capacidades técnicas seja reconhecido e aceite pelo “outro”. Só assim poderá depositar fé e confiança nas potencialidades do “outro”, na sua vontade de aprender, de melhorar, de desenvolver-se.

5. Por fim, o exercício do voluntariado deve depositar no “outro” um horizonte de esperança e de otimismo sem lhe esconder a realidade. É fundamental que a partir da verdade de cada situação concreta, das capacidades disponíveis, se faça um caminho que eleve o “outro” para o patamar da dignidade, da mesa comum, onde ele se possa sentar e comer do mesmo pão, dado por Deus a todos. É nesta mesa da partilha que a infinitude do amor desafia a própria morte e preenche qualquer vida de esperança.